O segredo: depoimento pessoal e o filme

por Cristóvão Pereira

Minha infância foi muito difícil, por conta de uma séria doença de minha mãe que, não só afetou a ela, como a todos nós (somos três filhos). Meu pai, diante dos enormes custos que a doença acarretava precisava trabalhar todo o tempo e não dispunha de muito para nos dar de atenção. Foi uma infância difícil, muito mesmo. No despero, acho que me agarrei à religião. Era o que estava mais próximo, uma vez que eu possuia uma bolsa de estudos que me permitia estudar em um dos melhores colégios do Rio de Janeiro: o colégio Santo Inácio, de padres jesuítas. Lá, busquei na religião meu refúgio e, lá, encontrei muito apoio, mas vi também crescer dentro de mim uma forma terrível de fantasia que me roubava a alegria da vida. Passava todo o tempo preocupado com o pecado e com medo do inferno. Muitas fantasias macabras povoavam minha mente infantil. A coisa chegou a um ponto que na adolescência precisei fazer terapia. A terapia me livrou da religião que havia me escravizado ao medo da vida. A sorte de um terapeuta brilhante, juntamente com o meu desejo de viver bem, fez com que eu afinal tivesse alta. Com a alta veio um ceticismo em relação a tudo que não fosse exclusivamente material e constatável no mundo real. Minha vida melhorou muito e entrei na vida adulta.
Porém, à medida que o tempo passava, comecei a observar coisas curiosas. A primeira delas foi que havia pessoas que reclamavam todo o tempo. Notei que essas pessoas pareciam estar sempre atraindo coisas ruins para elas. Parei de reclamar. Comecei a observar que em tudo na vida, há um lado positivo e um lado negativo, e podemos viver tanto um quanto o outro. Já vi a seguinte descrição de uma praia feita por uma amiga pessimista: "muito calor, a água gelada e cheio de areia grudando na gente; além disso, um monte de gente apinhada em um pequeno espaço, com crianças e vendedores berrando no meu ouvido". Bom, não deixa de ser verdade, mas nunca tinha visto a praia por este ângulo, pois adorava ir à praia e chegava a passar todo o dia nela. Fiquei com a convicção de que tudo é uma questão de como olhamos. Depende de nós. Outra observação que fiz foi de que havia pessoas que sempre estavam preocupadas com o futuro. Como se essa preocupação fosse mudar alguma coisa, além de fazê-los mentalmente miseráveis enquanto estavam vivendo as mesmas. Nos últimos anos, tive um "insight" que me mostrou que a preocupação é o caminho errado de se resolver qualquer coisa, e que, na verdade, atrai coisas ruins, pois o foco fica no medo e não na solução. Parei, então, de me preocupar. A princípio é difícil se livrar do hábito, mas depois fica facílimo, principalmente quando notei que não me preocupando tudo corria bem. Parecia que a solução aparecia "como que por mágica". Não confundir se despreocupar com se alienar. Devemos fazer tudo que está ao nosso alcance para resolver os problemas, mas confiando na solução final e não focando no desastre.
Em resumo, fui criando pequenas regrinhas na minha vida que começaram a fazer a mesma melhorar muito. Inclusive começaram a me fazer ganhar mais dinheiro, mais saúde, mais amizades e mais amor. Foi a caminho de tantas descobertas que um dia me vi na cidade de Joaçaba, que fica no interior de Santa Catarina. Lá sentado em uma rede na casa do meu anfitrião, vi uma menina de doze anos se aproximar e começar a conversar comigo. Ela parecia triste e me disse que a tristeza se devia ao fato de que não sabia como realizar o seu grande sonho: se mudar para a França (até hoje não sei de onde veio o sonho) casar com um homem maravilhoso, ganhar muito dinheiro e ser muito feliz. Tudo era muito no seu sonho. Ensinei a ela que deveria antes de dormir, toda noite, pelo menos por uma semana, enquanto estava naquele estado de sonolência, visualizar intensamente tudo que desejava. Ao acordar, deveria fazê-lo de novo antes de sair da cama. Se não o fizesse, se esquecesse, isso significaria que não era realmente importante e, portanto, não aconteceria. Depois dessa semana, deveria se despreocupar, pois o Universo cuidaria de organizar tudo para que isso acontecesse. (Eu sabia que funcionava, pois havia usado esse expediente para conseguir passar dois anos fazendo mestrado, sendo um nos Estados Unidos, com tudo pago pela empresa e recebendo salário, para perplexidade de meus colegas de trabalho).
Quando saí de Joaçaba achei que jamais a encontraria de novo. Cerca de oito anos depois, eu estava com uns amigos na praia de Ipanema quando fui abordado por uma belíssima loura, que me chamou pelo nome, e provocou olhares de inveja nos amigos. Eu tinha certeza de que não a conhecia, pois jamais esqueceria tanta beleza. Foi então que ela se identificou contando ser aquela menina de Joaçaba. E me agradeceu emocionada. Eu estava perplexo, pois nem lembrava do que lhe havia dito na ocasião. Ela me fez recordar, e contou hoje morar na França, estar casada com um campeão de esqui belíssimo, ser dona de uma das mais importantes clínicas de fisioterapia nos Alpes franceses, e ser muito feliz no seu casamento. O que eu havia aconselhado ela fazer durante uma semana, ela havia feito durante uns três meses. Depois desistiu achando que nada aconteceria. Um dia bateu à porta uma tia que morava em Curitiba. Na conversa com a mãe, as duas combinaram que a tia a levaria para estudar em Curitiba, para ela não ser criada com mentalidade de interior. Daí, veio o estudo do francês que ela tanto gostava, e a faculdade de fisioterapia. No meio da mesma conseguiu uma bolsa para fazer estágio em uma clínica nos Alpes franceses. Lá conheceu um jovem campeção de esqui que havia montado a clínica por ter sofrido um grave acidente e ter se recuperado graças à fisioterapia. Se apaixonaram e casaram.
Ontem assisti ao filme "O Segredo" e tive o cuidado de levar o meu filho de treze anos. Como ele se recusa a assistir documentários, que considera "chatíssimos", propus lhe pagar R$20,00 para me acompanhar. Concordou. Ele acabou gostando muito do filme, embolsou os R$20,00 e depois fomos comer uma pizza. Foi quando dei o meu depoimento confirmando a ele que há muitos anos eu sabia desse segredo, e que o tinha levado para ver o filme para que ele usasse o segredo na sua vida. Disse-lhe que o mundo não é mágico da forma Harry Porter, mas de uma outra forma. Ele levou muito a sério toda a conversa. É um garoto maravilhoso.
Concluí minha conversa com ele garantindo que o mundo é mágico e, enquanto mudávamos de assunto, surgiam na minha mente algumas frases da Bíblia, que havia aprendido com os jesuítas, e que continham já "o segredo". "As aves do campo não semeiam nem colhem, e nada lhes faltará" ou "A fé remove montanhas".