segunda-feira, 2 de abril de 2007

Poema: Quem morre (Pablo Neruda)


Quem Morre

Pablo Neruda


Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos
os dias os mesmos trajectos:
Quem não muda de marca , não se arrisca a vestir uma nova cor ou não
conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu
trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos
sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem
não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da
chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta
sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre
algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um
esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de
felicidade.

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