Paul Krugman, ontem: sobre os "stress tests" dos bancos americanos

(o texto abaixo é uma síntese do artigo e não uma tradução detalhada do mesmo)
Não é hora de festejar ainda, pode ser que a crise dos bancos ainda não tenha passado. Curiosamente, o secretário do Tesouro Tim Geithner, antes mesmo dos testes serem realizados, já dizia que os resultados seriam positivos. Se são ou não, dependerá do fato de você trabalhar no setor bancário ou em algum outro setor. Não vou debater sobre a verdadeira qualidade dos testes até porque não houve uma verdadeira auditoria sobre os ativos mantidos pelos bancos e nem havia recursos para tanto. Ficar focando demais nos testes nos tira o foco do principal: a preocupação do Governo Obama de rapidamente garantirem a vota dos bancos à normalidade. Essa estratégia deve funcionar, pois os bancos estão cobrando relativamente altas taxas de juros e por outro lado pagando praticamente nada para os recursos obtidos do Governo. Mas, é importante compreender a estratégia do Governo e seus riscos.

1- É preciso compreender que foi o mercado e não o Governo que declarou que os bancos estava sub-capitalizados;

2- No momento, os indicadores do setor privado continuam em níveis que seriam inaceitáveis na situação anterior à crise;

3- Portanto, ainda vai demorar para que o setor volte a funcionar normalmente apesar do Governo considerar que não precisa dar mais nenhuma ajuda adicional aos bancos;

A pergunta crucial é: "Pode a economia se reerguer mesmo com os bancos ainda fracos?" A resposta é "talvez". Os bancos não estarão ampliando o crédito tão cedo, mas orgãos financiados e apoiados pelo Governos estão aí para isso. O Banco Central (Federal Reserve) expandiu o crédito em 1,2 trilhão somente no ano passado. Fannie Mae e Freddie Mac se tornaram as principais financiadoras do setor imobiliário. Portanto, talvez deixemos a economia consertar os bancos ao invés do contrário.

Mas, há muitas coisas que podem sair erradas. Não está de todo claro se o sistema Fannie Mae + Freddie Mac serão capazes de substituir a função dos bancos. Se isso não funcionar adequadamente podemos ter o mesmo que aconteceu com os japoneses, isto é, um longo período de crescimento econômico fraco e alto desemprego.

No momento, uma fase de vários anos de economia fraca parece o cenário mais provável. A economia já não está desabando mas também não está voltando ao que era. E se a economia ficar fraca pelos próximos anos, os bancos estarão com problemas muito maiores do que o que foi testado pelos "stress tests".

Finalmente, dada a possibilidade de grandes perdas no futuro, a postura do Governo de não querer ser proprietário dos bancos e nem de deixar eles fracassarem leva a uma situação do tipo: "se tudo der certo os bancos se dão bem e caso contrário é o Governo que vai pagar o pato". Em outras palavras, se a atual estratégia do Governo para os bancos der certo, eles vão ganhar e muito. Caso contrário, o Governo terá de usar mais dinheiro dos contribuintes para socorrer o sistema bancário.

Mas, o que me preocupa mais não é nada disso! É o fato de que as perspectivas de uma verdadeira reforma do sistema financeiro estão desaparecendo lentamente!

Há muita gente acreditando que não havia nada de errado com o sistema financeiro. Mas, e essa maior crise desde a depressão de 1929? Muitos estão dizendo, "deixa para lá".

Isto é uma situação aterrorizante. Enquanto o Governo Obama está comprometido em mudar as regras do jogo financeiro, parece que o pessoal de Wall Street não pensa assim, e não vêem a hora de voltarem a jogar com as mesmas regras de antes.

Assim sendo, enquanto os bancos se sentem gratificados com os resultados do "stress test" o restante de nós deveria estar com muito, muito medo.