quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nouriel Roubini no NYTimes: O Todo-Poderoso Renminbi?


Nouriel Roubini (Istambul, Turquia, 29 de março de 1959) é um economista turco, naturalizado estadunidense, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, desde 2009. [1]. É também presidente do grupo de consultoria RGE Monitor, especializado em análise financeira.
No início dos anos 2000, Roubini foi apelidado Dr. Doom ou Doutor Catástrofe, [2] em razão das suas previsões econômicas catastróficas - ou, pelo menos, muito mais pessimistas do que as da maioria dos economistas, na época.
Em 2005, segundo a revista Fortune, Roubini afirmou que "o preço dos imóveis residenciais surfava em uma onda especulativa, que brevemente faria afundar a economia." "Naquela época, foi qualificado de Cassandra. Agora, é considerado um sábio." Suas previsões atuais são igualmente apocalípticas: uma recessão persistente, com mais de dois trilhões de dólares de perdas em créditos e uma crise bancária sistêmica. "O FDIC gastou 10% das suas reservas para socorrer IndyMac, e esta foi a primeira onda de falências," diz Roubini. "Será que daqui a pouco não teremos que socorrer o FDIC?" [3].

A tradução deste artigo, publicado no New York Times nesta quinta-feira, 14 de maio de 2009, foi feita por mim, autor deste blog, de forma livre. Nouriel Roubini, juntamente com Paul Krugman, foram dois economistas que previram esta crise com cerca de 10 anos de antecedência. Na minha opinião, o Sr. Roubini escreve ainda de forma mais clara que o Sr. Krugman.

O TEXTO DO ARTIGO DO SR. ROUBINI

"O século 19 foi dominado pelo Império Britânico e o século 20 pelos Estados Unidos. Nós podemos agora estar entrando no século da Asia, dominado pela China e pela sua moeda. Enquanto o status do dólar como principal moeda mundial não vai desaparecer da noite para o dia, nós não podemos mais acreditar que será sempre assim. Mais cedo, ou mais tarde, o dólar terá sua hegemonia desafiada por outras moedas e, mais provavelmente, o renminbi Chinês. Isso teria sérias consequências para a América dificultando o financiamento do nosso Orçamento e da forma barata de financiar o nosso déficit.

Tradicionalmente, impérios que dominam a principal moeda costumam ser credores e emprestadores líquidos. O Império Britânico entrou em colapso - e a libra perdeu sua posição de principal moeda de reserva internacional - quando se tornou um devedor e tomador de empréstimos líquido durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, os Estados Unidos estão em uma posição semelhante. Os Estados Unidos estão tendo gigantescos déficits no orçamento e no comércio e estão dependendo da bondade de nervosos credores estrangeiros que começam a se sentir muito desconfortáveis pela acumulação de mais ativos em dólar. Assim, o colapso do dólar pode ser apenas uma questão de tempo.

Mas, o que poderia substituí-lo? A libra inglesa, o yen japonês e o franco suísso, permanecem como moedas de reserva secundárias, pelo fato de que esses países não são grandes potências. O ouro é apenas uma relíquia bárbara cujo valor aumenta somente quando a inflação aumenta. O euro é uma moeda claudicante por preocupações com a viabilidade no longo prazo da União Monetária Européia. Isso nos deixa apenas com o renminbi.

A China é um país credor com grandes superávits de conta corrente, um pequeno déficit orçamentário e uma pequena dívida pública, como parcela do PIB, do que os Estados Unidos, e um crescimento sólido. E já está tomando medidas para desafiar a supremacia do dólar. Beijing já clamou por um novo padrão de reserva internacional na forma de "Direitos Especiais de Saque" (SDR = Special Drawing Rights), que consiste em uma cesta das moedas dólar, euro, libra e yen. Breve a China vai querer que a sua própria moeda participe da cesta, e que o renminbi seja usado como meio de pagamento de comércio bilateral.

No momento, no entanto, o renminbi ainda está muito longe de estar preparado para alcançar o status de moeda de reserva internacional. A China teria que, primeiramente, relaxar as restrições sobre entrada e saída de moedas do país, tornar sua moeda totalmente conversível para tais transações, continuar com suas reformas financeiras domésticas e aumentar a liquidez de seu mercado de títulos. Levaria ainda um bom tempo para o renminbi se tornar uma moeda de reserva, mas isso pode acontecer. A China já mostrou a sua força estabelecendo troca de moedas com vários países (incluindo Argentina, Belarus e Indonésia) e permitindo instituições financeiras em Hong-Kong emitirem títulos denominados em renminbi, como um primeiro passo para a criação de fortes mercados domésticos e internacionais para a sua moeda.

Se a China, e outros países, resolverem diversificar suas reservas para além do dólar, e eventualmente vão fazer isso, os Estados Unidos sofrerão. Nós tivemos significativas vantagens financeiras por ter o dólar como moeda de reserva e troca. Em particular, o forte mercado de dólares permite os Estados Unidos tomarem financiamentos a taxas significativamente menores. Nos foi então possível financiar grandes déficits por prazos mais longos e a custos menores, uma vez que a demanda por dólares manteve as taxas de juros do Tesouro Americano em valores baixos. Nós fomos capazes de emitir títulos de dívida em nossa própria moeda ao invés de em uma moeda estrangeira, portanto, transferindo as perdas com a queda do dólar para os nosso credores. Tendo commodities precificadas em dólares também garantiu que uma perda de valor do dólar não provocou um aumento no preço das importações.

Agora, imagine um mundo em que a China pudesse tomar emprestado e emprestar em sua própria moeda. O renminbi, ao invés do dólar, poderia se tornar um meio de pagamento nas transações e uma unidade de precificação de importações e exportações, assim como uma reserva de armazenamento de riqueza para investidores internacionais. Os americanos pagariam um preço por isso. Nós teríamos de nos proteger mais para a importação de bens e as taxas de juros, tanto do setor público quanto privado, subiriam. Um maior custo privado para tomar dinheiro emprestado levaria a um menor consumo e investimentos resultando em menor crescimento.

Esse declínio do dólar pode levar mais de uma década, mas poderia acontecer bem mais cedo se nós não colocarmos nossa casa, do ponto de vista financeiro, em ordem. Os Estados Unidos devem reinar em consumo e em tomada de crédito e perseguir crescimento que não seja baseado em bolhas de ativos ou de créditos. Pelas últimas duas décadas, a América tem gasto mais do que a sua geração de riqueza, aumentando passivos em relação a estrangeiros e acumulando dívidas que se tornaram insustentáveis. Um sistema onde o dólar foi a principal moeda internacional permitiu que seguíssemos tomando dinheiro emprestado de forma irresponsável.

Agora que o dólar não está mais tão seguro, nós precisamos mudar nossas prioridades. Isso exige investimentos em nossa abalada infraestrutura, em recursos alternativos e renováveis e em capital humano produtivo - mais do que em inovações financeiras no setor imobiliário e no setor de ativos financeiros tóxicos. Esta é a única maneiras de reduzirmos o declínio do dólar e sutentar a nossa influências em negócios globais.

Nouriel Roubini é um professor de economia da New York University Stern School of Business e presidente de uma empresa de consultoria econômica.

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