segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Da Folha de São Paulo - Exército e Favelas


FOLHA DE SÃO PAULO - BLOG DO JOSIAS DE SOUZA

O governador do Rio cultivou, por meses a fio, uma ilusão. Pedira a Lula, no final do ano passado, a ajuda das Forças Armadas no combate à bandidagem carioca. O presidente dissera que atenderia ao pedido. E Cabral acreditara.

Conversa daqui, reúne dali o Exército disse o seguinte: tudo bem quanto ao mapeamento da encrenca e à cessão de instalações militares para o uso de policiais civis. Nada a opor quanto ao compartilhamento de informações de inteligência.



E quanto ao emprego de tropas no policiamento ostensivo? Bem, neste ponto, a resposta do Exército foi a seguinte: nã, nã, ni, nã, não... Neca-di-pitibiriba. Nem pensar. Noves fora os impedimentos legais, diz-se que a soldadesca é preparada para guerrear com o inimigo externo. Nada a ver com a violência urbana interna.



Depois deles, o presidente que mais confetes joga em Lula é George Bush. Tudo o que ele quer na vida é um presidente brasileiro que manda tropas para o Haiti, congela o apoio à renegociação da dívida argentina e é visto como um quindim pelo FMI e como um esquerdista pelo "New York Times".



Corta para Cité Soleil, favela do capital do Haiti, catalogada pela ONU como um dos lugares mais perigosos do mundo. Ali, acotovelam-se 250 mil moradores. Em janeiro de 2006, registraram-se no favelão haitiano 106 casos de feridos a bala. Em março passado, esse tipo de ocorrência caiu a zero.



Na última segunda-feira (2), o ministro Nelson Jobim (Defesa) passeou pelas ruas de Cite Soleil. Foi inspecionar o trabalho do Exército brasileiro. Enviados ao Haiti no início de 2004, os soldados da tropa de Caxias transformaram-se numa espécie de CPMF fardada, com pernas e braços. Nascida provisória, a missão militar vai sendo eternizada.



Até o começo de 2007, as incursões em Cité Soleil eram feitas em carros blindados. Há dois meses, os soldados brasileiros passaram a patrulhar a favela a pé e em veículos leves. São temidos pelos bandidose festejados pelos moradores.



Ora, por que o governo companheiro sonega ao Rio aquilo que provê em Porto Príncipe, a capital do Haiti? Jobim revela a intenção de usar a experiência haitiana nas favelas cariocas. Antes, diz ele, seria preciso mudar as leis brasileiras. Pois que seja mudada. Afinal, como diz o célebre refrão, "o Haiti é aqui".

Nenhum comentário: