sexta-feira, 9 de março de 2007

Sobre decisões: o que devo fazer?


por Cristóvão Pereira


Eu tinha não mais que treze anos. Naquela época desejava me tornar sacerdote. Desde pequeno havia sido educado pelos padres jesuítas, apesar de meus pais não serem religiosos. Aquele ambiente me fascinava, pela profundidade, pelo mistério e por Deus. Vários amigos da época sentiam como eu. Assim, os padres, vez por outra, faziam palestras de como era a vida no seminário e de como seria depois da ordenação.

Era um mundo de certezas e, portanto, foi com espanto que ouvi uma palestra onde o padre assumia as dúvidas que teria tido pouco antes de ser ordenado. Aquilo me chocou. Talvez pelo fato de que eram as certezas geradas pelos representantes de Deus que me encantavam. Como então? Padres tinham dúvidas? Eram iguais a mim?

A palestra falava de um seminarista que entrou em crise existencial antes de ser ordenado. Ele teria então corrido a se confessar, pensando estar cometendo pecado pelas suas dúvidas. O confessor então lhe contou a seguinte parábola.

"Havia um homem perdido na floresta e, a medida que a noite se aproximava, ele se tornava cada vez mais inseguro. Escureceu, afinal, e ele passou a temer o que lhe pudesse acontecer. Deveria ele seguir adiante na escuridão, ou se abrigar a um canto e esperar o dia raiar?"

O seminarista respondeu que seria mais sensato parar e esperar o dia raiar. O confessor disse então que ele se encontrava na mesma situação do homem. Deveria seguir adiante? Ou parar e esperar pela claridade?

O seminarista então resolveu adiar a sua ordenação. E aprendeu a lição. Não tomamos decisões simplesmente por ser chegada a hora de decidir, mas certas decisões são definitivas e devem ser tomadas somente "quando o dia raiar". Mas, devem todas decisões ficarem a espera da clareza mental? Claro que não.

Na verdade existem três tipos de decisões. Aquelas que podemos reverter imediatamente e sem custo. Devemos tomá-las rapidamente. Seria tolice hesitar.

Aquelas que podemos reverter, mas que possuem um custo alto de reversão. Nesse caso devemos pesar o risco de perdermos a oportunidade contra o custo de uma decisão errada. E devemos da mesma forma decidir, mas sempre depois de uma cuidadosa ponderação.

A pior de todas é a irreversível. Esta só devemos tomar quando estivermos totalmente convictos do que estamos decidindo, caso contrário o resultado pode ser trágico.

Um casamento é algo que pode ser revertido, mas o custo é imenso, financeiro e emocional. Assim, há que se casar com convicção do fundo da alma.

Ter um filho é algo irreversível. Neste caso nenhuma dúvida pode estar presente.

Portanto, não deixe as dúvidas lhe assaltarem quando a reversão de sua decisão for fácil e o custo não for muito alto. Afinal, as dúvidas impedem o avanço da vida e interrompem caminhos que podem ser magníficos. Mas, coloque limites nos avanços e considere as reversibilidades de decisões posteriores.

Viver é decidir. Decidir é perigoso e não decidir também, pois quando não decidimos estamos decidindo não fazer nada. Apenas fugimos da responsabilidade por nossas vidas.

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